segunda-feira, 25 de julho de 2011

Os Monstros Nossos de Cada Dia

"A semana começou com a noticia da agressão a pai e filho que estavam abraçados, numa feira agropecuária no interior de São Paulo. O motivo? Os agressores pensaram tratar-se de uma casal homosexual e decidiram dar uma lição aos dois.



Não eram homosexuais, mas vamos imaginar que fossem. Como alguém pode imaginar que tem o direito de espancar dois seres humanos apenas porque eles vivem de forma diferente da dele?



Na sexta feira recebi a noticia dos terríveis atentados na Noruega. Desde que conheci aquele país, em 1975, guardo por ele uma relação especial. Fiquei cativado pela sua natureza ainda crua e poderosa, seus vales e fiordes cavados de forma dramática pelas geleiras de outrora, que hoje deram lugar a braços de mar de aspecto deslumbrante. Sinto-me ligado aquele povo, que é ao mesmo tempo sofisticado e simples, ligado à terra, que sempre me recebeu com um misto de hospitalidade e curiosidade – os brasileiros são muito diferentes dos nórdicos. Volto lá sempre que posso e aos amigos digo que é minha “viagem da alma”, onde vou para satisfazer minha necessidade de estar em contato com a natureza pura.



As notícias e imagens dos ataques me abalaram. Pessoas inocentes, a maioria adolescentes, foram executados por um louco que não aceitava ver seu país recebendo imigrantes praticantes de outra religião. Como é possível alguém, da minha própria espécie, chegar ao ponto de achar que é certo executar inocentes, seja lá por que motivo?



No Sábado pela manhã a noticia da morte de Amy Winehouse. O fato em si, embora triste, é uma tragédia anunciada. Infelizmente já vi isso, várias vezes na minha vida. Jimmy Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Cazuza são alguns dos nomes que me vêm a mente agora. Pessoas incríveis, que nos conquistaram pela sua grande sensibilidade e que, paradoxalmente, foram vitimados por ela. A sensibilidade que abre as portas da percepção e mostra o caminho da criação, pode também atormentar a alma a ponto de levar a insanidade e a auto destruição. Fico triste com o desfecho, mas é algo que aprendi a aceitar, com serenidade e tenho por essas pessoas um enorme apreço, pela arte maravilhosa que produziram e pelas portas que abriram.



O que me desconcertou no episódio da Amy foram os comentários enviados a jornais e sites de notícias. “Já vai tarde”, “Bem feito”, “Quem procura acha”. Não consigo entender como alguém pode desejar isso a uma pessoa que nunca fez mal a ninguém a não ser a si mesma.



Os dois episódios de violência e as mensagens raivosas por causa da morte da Amy, guardam uma característica em comum: revelam a dificuldade que certas pessoas têm de aceitar e lidar com o diferente. É essa dificuldade que faz com que alguém espanque um homosexual ou se incomode com o modo de vida de um artista e deseje a sua morte precoce. É ela que faz um louco matar inocentes.





A multiplicidade de caminhos e convicções que a raça humana consegue produzir é algo fantástico. Essa é a característica mais interessante da nossa espécie. Imaginem se fossemos um daqueles bandos de aves que vemos nos documentários sobre a África, em que cada pássaro voa exatamente da mesma forma, na mesma direção e no mesmo momento que os outros. Que pousa quando todos pousam, come quando todos comem, decola quando todos decolam, enfim vivem todos exatamente da mesma maneira. Não teríamos guerras, conflitos e nenhuma desavença, mas nossa vida seria muito pobre e infeliz. A riqueza da nossa existência está em sermos diferentes uns dos outros.

Nosso desafio é conseguir que essa diversidade conviva em paz.

Semanas como a que terminou parecem nos dizer que estamos falhando nessa missão, mas eu prefiro achar que elas servem para nos alertar, para nos lembrar dos monstros que habitam dentro de nós. Esses tristes eventos nos provam que, a qualquer minuto, a qualquer dia, eles podem acordar. Quando o fazem são muito barulhentos e apavorantes.

No entanto, acredito na nossa capacidade de domar monstros. Basta olhar ao redor e todos os dias vejo pessoas de bem, lutando com dificuldades, sempre com um sorriso nos lábios. Vejo uma geração incrível chegando ao mercado. Garotos que trabalham até tarde da noite, com um brilho de alegria nos olhos. Vejo outros criando empresas e projetos, com dificuldade, mas com muita criatividade e empolgação.



Vejo superação e solidariedade. Esperança e sonhos.



Vejo luta e realização.



Vejo muito amor.



Essa é a vida no planeta Terra. Um desafio a cada minuto. Alegrias e sustos andando lado a lado, onde nos cabe a nobre missão de nunca, mas nunca mesmo, desistir ou nos deixar entregar.

Boa semana a todos."

João Ferrer

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Carta para Minha Mãe Amada

"Hoje faz 4 anos que dona Ana Sabugosa partiu. 4 anos de vazio, mas 4 anos de crescimento.

De uma hora pra outra me vi sem chão, sem aquela que me fazia ter certeza, mas fui em frente.

Muita coisa do que ela deixou pra nós todos eu fui descobrindo ao longo desses anos, e acredito que seguirei da mesma forma.

Cada dia mais percebo o quanto eu tenho dela e o isso me dá orgulho. Algumas coisas são graças a genética, outras são ensinamentos. Com ela, eu aprendi a cuidar dos amigos, e que com gestos simples a gente pode fazer um bem gigante ao outro. Aprendi também que nada vem fácil, mas desistir jamais.

A dor não passa nunca, isso eu já entendi, mas a presença dela não se apaga, continua forte como sempre foi. A família que construiu permanece cada vez mais unida e cheia de orgulho da marca que ela deixou aqui na terra.

Saudade enorme!"

Lia Sabugosa

terça-feira, 12 de julho de 2011

Escrever, escrever e escrever


Sempre gostei muito de escrever. Uma das minhas matérias prediletas no colégio era Redação. Me lembro até hoje do nome da professora. Sônia. Lembro até das mãos dela escrevendo no quadro. Incrível como a memória seleciona as coisas comuns a nós.

Durante muito anos escrevi nas minhas agendas. Tinha anos de vida confidenciados em agendas e mais agendas. Eram textos que traduziam em palavras as sensações como a do primeiro beijo, minha primeira paixão, minhas brigas com meus irmãos. Minha vida por alguns anos dentro de agendas. Quando me casei acabei me desfazendo delas. Hoje me arrependo. Não por ter me separado, mas por deixar pra trás parte da minha história.

Depois de anos, eu ainda casada, resolvi criar esse Blog. O intuito não me lembro exatamente. Quase não conhecia pessoas com Blogs, mas gostei da idéia de ter um. E acabou dando certo. Tinha um grupo fiel de leitores e aquilo alimentava a minha vontade de escrever. Escrevi textos que até hoje, quando encontro amigos e conhecidos por aí, comentam. Fico muito feliz e orgulhosa. Mas mesmo assim me sinto falha na rotina da escrita.

E foi em um momento de busca pela vontade de rotina na escrita que fiz minha inscrição em um curso de “cenas curtas”. Um curso aonde era possível aprender a escrever esquetes, ou seja, cenas curtas. Nelas o diálogo deveria estar presente. Afinal uma cena precisa, principalmente, de diálogo. A não ser que seja um monólogo.

As aulas são dadas pela grande Julia Spadaccini. Uma jovem talentosíssima que escreve pra teatro, TV e quadrinhos. Tem um humor maravilhoso e um dom absurdo de ensinar. Com ela aprendi a diferença de escrever para teatro e livros. Aprendi também que precisamos ter paciência quando o assunto é escrever. E principalmente que não precisamos ser geniais para escrever, basta ter vontade e disciplina. Isso sim: disciplina! Com a prática estou gostando mais de mim como autora. Já escrevi mais de 10 textos e pretendo escrever uma peça ainda esse ano.

Hoje é um dia muito importante pra mim como autora. Terei minha grande noite de estréia. Minha turma fará uma sessão no Teatro Poeira, aqui no Rio de Janeiro, para lermos alguns textos escritos por nós. Além de ter um texto meu em cena, fui convidada pra ler outros três. Estou bem feliz. Espero que esse seja o passo pra grandes estréias por trás das cortinas, e quem sabe, das telas.