sexta-feira, 28 de março de 2008

Nada como viver com simplicidade

"Roubei" esse brilhante texto do blog do também brilhante Bruno Mazzeo, que também cometeu o mesmo ato que eu, roubo, quando postou esse mesmo texto no seu blog. Enfim...se tantas pessoas se interessaram, vale a pena lê-lo.



Num processo de seleção da Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta: ’Você tem experiência?’ A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e ele com certeza será sempre lembrado por sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo por sua alma.

REDAÇÃO VENCEDORA:

Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar. Já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto. Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro. Já me cortei fazendo a barba apressado. Já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrela. Já subi em árvore pra roubar fruta. Já caí da escada de bunda. Já fiz juras eternas. Já escrevi no muro da escola. Já chorei sentado no chão do banheiro. Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já corri pra não deixar alguém chorando. Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado. Já me joguei na piscina sem vontade de voltar. Já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios. Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro.Já tremi de nervoso. Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial.
Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua. Já gritei de felicidade. Já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um ’para sempre’ pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol. Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração. E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: ’Qual sua experiência?’.
Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência... experiência... Será que ser ’plantador de sorrisos’ é uma boa experiência? Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:

Experiência? Quem a tem, se a todo momento tudo se renova?

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sou uma mulher multifacetada



Desde pequena sabia que arte seria meu futuro. No início pensei que fosse arte nas telas, não as de TV, as pintadas com tinta. Adorava. Minha mãe sempre me incentivava, acho que por ela ter esse dom também e não ter seguido esse caminho.

Até que um dia fui ao teatro assistir a peça “Uma Relação tão Delicada”, com a fenomenal Regina Braga e a esplendorosa Irene Ravache. Eu devia ter uns 13 anos. Fiquei tão tocada com aquelas mulheres se transformando naqueles personagens tão complexos, que decidi: “É isso que quero fazer”. Ali tive certeza que havia achado a
minha verdadeira arte. Nunca mais me esqueci quando entrei no camarim e vi a Ravache de perto. Acho que apenas Buarque, o Chico e Ravache me deixam assim, boba, sem reação.

Descoberta a profissão que iria seguir, fui à luta. Por dois anos penei pra entrar no Tablado, a escola primeira de todo ator que realmente quer fazer arte. E claro, que viva no Rio. Lá convivi com Maria Clara Machado. Que pessoa...nossa! Uma verdadeira dama. Infelizmente na minha época ela só dava aula pra terceira idade, mas só de esbarrar com ela pelos corredores do Tablado, já me deixava realizada. Lá tive aula com a incrível Isabela Secchin e seu fiel escudeiro, Luis Otávio. Foram dois anos de muito aprendizado, principalmente de vida, coisa que Isabela sempre frizava: “Se querem TV não é aqui o caminho. Aqui é pra aprender TEATRO!”. Com aquela personalidade toda ela conseguia ensinar, nem que fosse na marra. Adorava!

Como queria ter uma formação completa, não poderia ficar no Tablado a vida toda, por mais que lá seja realmente uma excelente escola, mas precisa aprender mais. Tinha fome de saber mais. Foi aí que entrou a CAL ( Casa das Artes de Laranjeiras) na minha vida. Essa deixou marcas. Além de grandes e eternos amigos. Lá aprendi a usar meu corpo, minha voz, a cantar, a história do teatro. Até coisas que não se devem ensinar aprendi lá, como fumar e beber. Não deviam ensinar essas coisas. Deixo claro que não foi a escola que me ensinou, e sim seus alunos, que amo, mas como todo mundo tem seus defeitos, esses eram os deles. Fiquem tranqüilos que larguei mão, não de beber, mas aprendi a moderar na dose. Nada como a sobriedade para se seguir em frente.

Devem estar se perguntado: “Trabalhar que é bom, nada, né?”. Que nada! Trabalho desde meus 18 anos. Fiz muita, mas muita recepção em eventos, aquela profissão que tem que sorrir mesmo sem achar graça, aliás, aquilo foi um laboratório sem fim pra mim, porque mesmo achando um tédio mortal muitas vezes, eu tinha que manter a pose e sorrir. Fiz muita produção de evento, esse eu gostava, aliás gosto. Tenho o dom de produção, de ser pro-ativa e tal, por isso que peguei a RODA GIGANTE pra colocar de pé; mas isso é outra história que pode ser lida no texto "Cheguei a pensar em desistir". Fiz muitas coisas pra ganhar dinheiro e pagar meus cursos e minhas contas, como G.O do Club Med com as crianças do mini club, uma espécie de arte também, porque cuidar de dezenas de crianças de nacionalidades distintas, só pra artistas; fiz pesquisa pelo telefone com minhas amigas, a gente se encontrava nos finais de semana pós praia e faturávamos uma boa grana; fiz bijuteria; assistência de produção em dois escritórios de produção de eventos; fiz (ainda faço) comercias como atriz, essa parte eu amava, amo, claro.. Isso tudo ao mesmo tempo agora! Era uma vida doida, dura, mas me divertia muito.

Depois de tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo eu fugi. Fugi pra perto da minha mãe e meu gêmeo que estavam em Portugal. Que delícia! Fui pra passar dois meses acabei ficando seis. Como vivi! Conheci pessoas maravilhosas, viajei pela Europa como apresentadora de um documentário sobre músicos pernambucanos pela Europa, como Lula Queiroga, Spok Frevo Orquestra, minha irmã, Lia Sabugosa, cantando com André Rio, e meu irmão filmando e me dirigindo. Viagem inesquecível. Foi o grande teste meu como apresentadora. Foi um desastre. Claro! Não tinha a menor experiência e ainda era pra valer, com grana rolando e tudo. Fiquei numa tensão que nem parecia a mesma apresentadora que sou hoje. O que me deixa tranqüila é que a venda do documentário não foi pra frente, então só eu tenho a fita beta. Escapei do youtube!

Assim que voltei pra vida real senti falta do teatro. Então logo me inscrevi na UniverCidade, no curso de formação de atores. O que foi ótimo, pois já estava mais madura e focada nas aulas. Aprendi muito também. Além de ter feito muitos amigos.

Já formada e trabalhando, ou melhor, tentando trabalhar, pois arte tem disso, é difícil trabalhar que nem te conto. Eis que surge o teste para o longa do Euclydes Marinho, “Mulheres, Sexo, Verdades e Mentiras”. Passei. Foi uma pequena participação, mas fiquei tão realizada, afinal cinema é um sonho de criança pra mim. Amo demais. Logo depois surgiu o teste para novela Bang Bang, até então a novela do meu querido Mário Prata, hoje meu amigo. O diretor adorou o teste. Fiquei quicando em casa a espera do telefonema decisivo. Quatro meses depois...toca o telefone: “Julia, vem aqui no projac pro Waddington te ver”. Que alegria. Logo que cheguei, o meu futuro irmão, Bruno Garcia, me recebeu muito bem e fez questão de entrar comigo no estúdio para o Waddington me ver. Ali senti que tudo daria certo, afinal até meu “irmão” tinha me aprovado. Carmencita entrou na minha vida naquele momento. Uma personagem difícil, mas que me realizou demais.

Pós Bang Bang me deu um certo desespero.” E agora? O que tenho que fazer?”. Juntei todo meu material da novela, selecionei quatro cenas e um monólogo que já tinha gravado há um tempo antes e distribuí pelas emissoras e produtoras pelo Brasil todo. Até que rendeu uns bons trabalhos e claro, umas furadas. Gravei alguns comercias, fiz alguns testes, mas nada concreto. Então foquei em duas áreas que amo muito: Teatro, com a peça do meu irmão, a RODA GIGANTE, e as reportagens, que amo fazer e faço desde 2004, com coberturas em eventos sociais e culturais. Aliás, isso já me dá pano pra manga para mais um texto.

terça-feira, 11 de março de 2008

Cheguei a pensar em desistir


Impressionante a dificuldade de se fazer arte num país onde se respira arte. A arte que cito aqui é a arte pela arte. Estamos falando de Brasil, um país belíssimo por natureza, como diz Jorge, não o São, o Santo patrono de países que não o Brasil, apesar de ter muito brasileiros fieis e devotos, mas o Jor. O nosso Jorge.

O Brasil é cheio de artistas natos, um dos pontos fortes dessa terra linda. Por isso mesmo nunca imaginei que seria tão difícil, apesar de imaginar a dificuldade que seria fazer qualquer coisa onde precise da lei brasileira ao seu lado, ou junto de nós. Afinal, os impostos deveriam ser pra isso, não? Pra que tudo funcionasse direitinho, de acordo com as promessas. Mas não. Ainda criam mais dificuldades, pensei que não fosse possível mas foi. Incríveis dificuldades!

Deve estar pensando: "o que foi que a Julia consumiu que a deixou assim?". Estou consumida é de revolta.

Estou quase a dois anos trabalhando pra colocar minha peça de pé, a RODA GIGANTE. Na verdade o texto não é meu, é do meu irmão gêmeo, então é como se fosse meu, afinal gêmeo é quase a mesma pessoa, só que tem um "objeto" fálico, por ser homem. Enfim.. isso não vem ao caso. A peça realmente é maravilhosa, um texto brilhante, digno de um Sabugosa, afinal temos titio Visconde que não nega o talento dos Sabugosa, mas mesmo assim uma loucura pra chegarmos a estréia. Primeiro foi fechar o elenco de atores e ficha técnica, que ficou sensacional. Alguns nomes pra que entendam do que digo: Maria Abujamra como preparadora corporal, Jorge Espírito Santo assinando luz e cenário, Rose Gonçalves na voz, Zé Guilherme Guimarães dividindo cena comigo, Anderson Cunha como incrível diretor, Mário Prata como uma espécie de incentivador com bons flúidos e ótimo humor, e muitos outros tão incríveis como estes citados. Depois dessa primeira batalha..montar o projeto. Nossa, ficou lindo de se ver. Impecável. Uma dupla sensacional, com Taíssa Laborne a Andreia Arruda. Só isso nos rendeu quase um ano.

Depois disso tudo tínhamos um lindo projeto, e ai? Cadê a grana? "Ah, só pela lei. Tem que ser senão não tem dinheiro, e sem dinheiro não tem RODA". Tá, tá. Vamos lá. O mais provável pra nós seria a lei Estadual, do ICMS, pois só ela, até então, poderia ser inscrita com CPF, ou seja, pessoa física, ou seja, eu. Sim! Eu fiz a loucura de inscrever uma peça com o meu CPF. Ai meu Deus! Depois de inscrever, ainda tem que aprovar, sabia? Senão não há dinheiro, sabia? Eu ligava tooodos os dias pra saber: " E aí? A RODA?" . Até que se encheram de mim e aprovaram. Sim! Aprovaram! Aí que um novo ciclo começou. Pelo menos um NOVO ciclo. Aliás, o quinto ciclo. É...estou vivendo o quinto ciclo da RODA. Quantos ainda faltam?

Penso diariamente: Vale a pena. Vale a pena. Não desista! Não desista!

segunda-feira, 10 de março de 2008

Lia Sabugosa



Pra mim a maior cantora já existente. Aí me perguntam: "porque não Elis?". Claro, Elis! Amo demais. Mas Elis era difícil, não era família, não era de muitos amigos. Era um gogó de ouro sim. Demais de ouro, na verdade de brilhante. Só que Lia é muito mais que isso. Além de ser gogó de ouro e brilhante, é uma mulher linda, honesta, fiel aos amigos, família e marido, uma menina-mulher que ainda não descobriu a beleza que existe nela, por isso é a pureza em forma de beleza.

Lia está finalmente chegando ao estrelato. Fico na torcida, aflita da vida com cada gesto de timidez que ela expõe no palco. Mas aprendi a conviver com a pureza dessa incrível mulher. Aprendi que ela é simplesmente ela. Tem personalidade suficiente pra arrancar choro e risada do seu público tão fiel a ela quanto ela lhe é fiel.

A cada dia tenho mais certeza que nem o sucesso, fama e dinheiro irão tirar dela a simplicidade e honestidade. Por isso digo e repito: pra mim já nasceu a ídola maior, o exemplo a ser seguido por todos.

Lia Sabugosa, te amo demais.